quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Segunda Gerra Mundial


AS TENSÕES INTERNACIONAIS NAS VÉSPERAS DA II GUERRA MUNDIAL


No período entre as duas Guerras Mundiais. a democracia liberal - tal como fora concebida e praticada no século XIX. isto é, burguesa e elitista - estava em crise. Entre as causas desta crise. destacamos:
• o reconhecimento dos direitos políticos das massas (voto universal, direito de voto feminino);
• a intensificação da luta de classes entre uma burguesia industrial e financeira e um proletariado progressivamente organizado à escala mundial (III Internacional ou Internacional Comunista – Comintern, de 1915 a 1943);
• desenraizamento de amplos sectores da população durante a guerra e por largos períodos de serviço militar;
• a crise económica e financeira e o desemprego;
• as lutas internas pelo poder em Estados plurinacionais de formação recente (Checoslováquia. Jugoslávia), onde grupos étnicos dominantes oprimem minorias nacionais;
• fraccionamento político provocado pela introdução dos métodos de representação proporcional, que dificultam a constituição de maiorias parlamentares estáveis.
Em tempo de crise (económica, política e psicológica), o chefe político (líder) e o partido único pareciam oferecer a única solução: a ditadura. Neste contexto, na Europa dos anos 20 e 30 assiste-se si uma sucessiva implantação de regimes autoritários:
• 1922 – A ”marcha sobre Roma” de Mussolini conduziu ao fascismo;
• 1923 – Ditadura de Primo de Rivera, em Espanha;
• 1926 – Golpe de Estado de Pilsudki, na Polónia;
• 1926 - Golpe de Estado do general Gomes da Costa, em Portugal, que levará à ditadura de Salazar;
• 1929 - Golpe de Estado de Alexandre III, na Jugoslávia;
• 1930 - Golpe de Estado do Rei Carlos II, na Roménia;
• 1933 - Hitler implanta na Alemanha o regime nazista;
• 1933 - Golpe de Estado de Dollfus, na Áustria, que implanta uma ditadura fascista;
• 1936 – Inicio da Guerra Civil Espanhola que levará (1939) à ditadura de Franco;
• 1936 - Golpe de Estado do General Metaxas, na Grécia.
Uma característica comum a estas ditaduras era a exaltação do nacionalismo, que assentava na corrente de opinião de que o prestigio nacional e a autodefesa exigem uma política internacional baseada na força e na guerra, e por isso era preciso o rearmamento.
Contrariando as disposições do Tratado de Versalhes, a Alemanha de Hitler restabeleceu o serviço militar obrigatório (1935) e procedeu a um armamento maciço.



A ASCENÇÃO DO NAZISMO AO PODER


Combateremos nas praias, combateremos nos locais de desembarque, combateremos nos campos e nas ruas,
combateremos nas montanhas; não nos renderemos nunca.
Winston Churchill

Em Novembro de 1918, estabeleceu-se na Alemanha um regime democrático e republicano denominado República de Weimar, nome da cidade na qual foi aprovada a nova constituição do país. Desde logo, este regime enfrentou sérias dificuldades pelo facto de ter assinado o Tratado de Versalhes, que regulou as condições humilhantes da capitulação alemã, definindo os novos limites fronteiriços e as indemnizações de guerra.
Para além da desmoralização provocada pelo tratado, a Alemanha vivia um período de grave crise económica e social, com subidas de preços, desvalorizações da moeda, economia desorganizada e inflacionária, elevado desemprego, instabilidade política e social provocada por movimentos extremistas da esquerda e da direita.
Nos primeiros anos da década de 20 a economia começou a dar sinais de alguma recuperação, mas essa recuperação vem a ser interrompida com as repercussões da crise americana de 1929.
A Alemanha sofreu as consequências da retirada de capitais americanos, o que afundou os bancos e as pequenas e médias empresas alemãs, trazendo uma nova vaga de desemprego, falências e agitação política e social.
A agitação foi aproveitada pelos comunistas e pelos extremistas de direita. É neste contexto que se começa a destacar o Partido Nacional Socialista (nazi), liderado por um combatente da I Guerra Mundial, de nome Adolf Hitler.
Face a esta onda de insatisfação e descrédito dos governantes alemães, as propostas do Partido Nazi começam a encontrar eco junto da maioria da população. Hitler mostra-se um opositor do Tratado de Versalhes e acusa os judeus e os comunistas de serem os grandes responsáveis pelo estado depauperado da economia alemã. Para além das promessas de trabalho para todos os alemães e melhoria das condições de vida, o partido reforça a propaganda nazi na imprensa, promove manifestações populares e cria milícias armadas, as SA (Secções de Assalto) e as SS (Secções de Segurança), que perseguem os adversários, utilizando mesmo práticas de terrorismo intimidatório.
A pouco e pouco, começa a reunir o consenso dos vários grupos sociais, dos mais pobres aos mais ricos, que aspiram a um governo de liderança forte e que proteja os interesses da Nação. Os partidos de direita e os grupos ligados aos grandes interesses económicos dão o seu apoio a Hitler.
Nas eleições de 1932 para o Reichstag (parlamento alemão) esta tendência veio a confirmar-se, com a vitória do Partido Nazi em plenas eleições livres, obtendo cerca de 33% dos votos. Em Janeiro de 1933, Hitler é nomeado chanceler com toda a legalidade e o Partido Nazi torna-se o maior partido alemão.
A tomada de posse como Chanceler alemão permitiu a Hitler dominar todo o panorama político, convocando novas eleições em Março de 1933, que lhe dão uma maioria parlamentar. Extingue todos os partido da oposição e, em 1934, com a morte do Presidente Hindenburg, passa a ter poderes ilimitados, na medida em que acumula os cargos de Presidente da República e de Chanceler
Defendendo a ideologia do partido único, Hitler acaba com o regime democrático e republicano e instaura um regime ditatorial, baseado no poder e na autoridade do Fuhrer (chefe) e apoiado na censura e propaganda nazi. Isto permite-lhe controlar a sociedade através do Estado - é o início do III Reich e o fim da República de Weimar
.A Juventude Hitleriana recebia equipamento e treino militar assim como uma educação marcadamente nacionalista. Assim, o poder de Hitler rapidamente degenera em formas repressivas e totalitárias de controlo da sociedade e de exercício da violência política. A polícia secreta nazi, ao serviço do Estado e sob a direcção de Heinrich Himmler, prendia, torturava e matava os adversários do regime totalitário de Hitler
No que respeita à política económica, o nacionalismo e uma política expansionista vão alimentar um claro proteccionismo às indústrias alemãs, como também o acentuar de uma política de investimentos estatais que, a partir de 35, visava uma clara preparação para a guerra.
Hitler proibiu as greves e a liberdade sindical, agregando na Frente de Trabalho empregados e patrões, que tinham a obrigação de aí estarem inscritos e aí conciliar os seus interesses.
Em termos de política externa, defende a revisão do tratado de Versalhes, como primeiro passo para a conquista “de um novo espaço vital”; em 1936 assina com o Japão e a Itália o “Pacto antikomintern”, a que mais tarde se associa a Espanha.
O regime totalitário nazi baseou-se ideologicamente em dois pressupostos: o racismo e o totalitarismo .
Na realidade, os nazis defendiam a superioridade da raça ariana, facto que os motivava na perseguição violenta aos judeus - anti-semitismo - e que os orientava numa clara política de genocídio, com a prisão em campos de concentração, torturas e assassínios de judeus, ciganos, deficientes e todos os considerados “sub-humanos”. Idêntico princípio estava presente no combate aos “povos inferiores” (polacos, eslavos) à custa da subjugação ou eliminação dos quais a Alemanha deveria edificar o alargamento do seu “espaço vital” e tornar-se a nação dominante na Europa.
O outro princípio nazi era o totalitarismo, que estava assente na ideia de um Estado forte, liderado pelo todo-poderoso Hitler e pelo Partido Nazi, negando os princípios da democracia, do parlamentarismo e do liberalismo.
Foi à II Guerra Mundial que o nazismo conduziu a Alemanha e o Mundo.



A PAZ ARMADA: UM CLIMA DE TENSÃO


Durante anos, após a sangrenta I Grande Guerra, a Sociedade das Nações tinha conseguido manter um clima de paz no Mundo. No entanto, a grave crise económica que marcou o final dos anos 20 e a ascensão dos regimes totalitários em muitos países europeus fizeram abalar esta esperança de equilíbrio pela qual tanto se lutara.
A situação política que se vivia na Rússia, Inglaterra, França e Espanha comprometia seriamente a paz mundial. Por outro lado, vários movimentos no sentido de ultrapassar fronteiras dos países vizinhos, chegando mesmo à ocupação de diversos territórios, tornavam a guerra uma ameaça cada vez mais próxima.
A necessidade crescente de matérias-primas, provocado pelo abrupto crescimento industrial, provocava tensões nacionalistas, levando mesmo as populações a apoiar os seus países nestes abusos que cometiam. Assim, vários foram os países que se lançaram numa política de expansionismo económico e político:
• 1936 – A Itália ocupa a Etiópia.
– A Itália, a Alemanha e o Japão formam uma aliança de forma a defender os seus interesses de natureza imperialistas, o Eixo.
• 1936/37 – a Alemanha e a Itália apoiam a Guerra Civil de Espanha.
– A Alemanha, que nunca aceitara as condições do Tratado de Versalhes, lançou-se então numa política expansionista de carácter agressivo.
• 1937 – O Japão invade a China e ocupa a Manchúria.
• A Alemanha anexa a Áustria e invade a Checoslováquia, não conseguindo a Sociedade das Nações impedir este facto.
Perante esta assustadora movimentação por parte de poderosos Estados totalitários, a França e a Inglaterra assinam com a Alemanha pactos de não agressão que tinham por principal objectivo garantir o já frágil equilíbrio entre nações. A URSS seguiu este exemplo; no entanto, o “preço” a pagar pela paz germânico-soviética seria o sacrifício da Polónia e dos Países Bálticos, os quais, de acordo com o pacto assinado seriam desmembrados e partilhados entre a URSS e a Alemanha.


A II GUERRA MUNDIAL


1.ª FASE DO CONFLITO: AS VITÓRIAS DO EIXO (1939 – 1941)


Todo o clima de pré-conflito acabou por “explodir” quando, na madrugada de 1 de Setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polónia. Este é o passo decisivo que vai desencadear um novo conflito à escala mundial: a 3 de Setembro, em nome da Inglaterra, Winston Churchill e, de seguida, Edouard Daladier, pela França, declaram guerra à Alemanha.
A França e a Inglaterra, julgando-se bem escudadas - a França pela enorme linha fortificada conhecida por Linha Maginot ; a Inglaterra pela sua condição insular - assistem impotentes ao esmagamento da Polónia.
Entretanto, a Rússia ataca a Finlândia e Hitler invade a Dinamarca e a Noruega. No espaço de um ano, Hitler conquista quase toda a Europa, através de uma estratégia de “guerra-relâmpago” (Blitzkrieg), baseada numa acção arrasadora das colunas de blindados alemães – as Divisões Panzer – com o apoio simultâneo da aviação e do fogo da artilharia. Este imenso poderio bélico beneficiou do factor surpresa, o que já permitira às tropas de Hitler vencer a Polónia em cerca de três semanas.
Mas a grande ofensiva para oeste estava a ser planeada pelos comandos alemães havia largas semanas. Em 10 de Maio de 1940, as Divisões Panzer, comandadas pelo general Rommel, invadiram a Holanda e a Bélgica (até então neutrais), que ocuparam em 48 horas. Cinco dias depois, entraram em território francês, por Sédan, obrigando as forças inglesas entretanto desembarcadas no continente a uma dramática retirada (a retirada de Dunquerque): 340 000 homens foram salvos, mas muitos milhares morreram ou foram feitos prisioneiros.
Alguns países optam por uma posição de neutralidade face à guerra: é o caso de Portugal, Espanha, Suíça e Suécia.
A derrota dos Aliados parecia definitiva. Em 14 de Junho de 1940 Paris caiu em poder dos alemães, e uns dias depois o marechal Pétain, como representante do governo francês, assinava a capitulação nas condições impostas por Hitler. A França não ocupada reduzia-se à zona cetro-sul, tendo a capital sido transferida para Vichy.
Face aos fulminantes resultados dos alemães, Mussolini declara guerra à França, quando esta já estava praticamente vencida, mas as tropas italianas não viriam a desempenhar papel de relevo na guerra: derrotadas na Grécia e no Norte de África, só viriam a ocupar os Balcãs quando o exército alemão lhes foi prestar auxilio (Abril – Maio de 1941)
No panorama político e militar da resistência a Hitler, destacam-se duas figuras históricas: Winston Churchill, primeiro-ministro inglês desde 10 de Maio de 1940, e o general Charles de Gaulle, que me Londres preside ao Comité Francês de Libertação.
Foi neste período que se travou uma das mais duras batalhas aéreas, a Batalha da Inglaterra (1940), em que a Royal Air Force inglesa derrotou a Luftwafe alemã, fazendo cair por terra as ilusões de Hitler de uma conquista da Grâ-Bretanha.
Depois da campanha vitoriosa do ocidente, Hitler alarga o palco de guerra, rompendo com o Pacto Germano-Soviético. As tropas soviéticas, mal equipadas, constituem um alvo acessível para Hitler, que avança até Leninegrado. Lá, o esforço heróico dos soviéticos para manterem o domínio de Moscovo e Estalinegrado fizeram recuar os alemães, depois de longos meses de ocupação. Esta vitória dos russos significou a viragem da guerra.
A guerra estendeu-se também ao Mediterrâneo, com as invasões da Jugoslávia e Grécia, pela aliança italo-germânica.
A 7 de Dezembro de 1941, dá-se o ataque da aviação japonesa à frota americana ancorada no porto de Pearl Harbor, no Pacifico. Os Estados Unidos e a Inglaterra declaram guerra ao Japão. A Alemanha e a Itália declaram guerra aos Estados Unidos, dando assim cumprimento ao acordo anteriormente estabelecido com o Japão. É o inicio da mundialização do conflito.

2.ª FASE DO CONFLITO: O EQUILÍBRIO DE FORÇAS (1941 – 1943)

De Junho de 1941 a Setembro de 1943 a guerra desenvolveu-se em grandes movimentos militares e violentas batalhas na Europa, no Norte de África e no Pacifico.
Com os Aliados praticamente derrotados, três factos novos vêm alargar as dimensões do conflito e a equilibrar as forças em presença:
1. a guerra germano-soviética, que obriga os alemães a dispersar os seus exércitos por mais uma longa frente;
2. a entrada dos Estados Unidos na guerra, que representa um novo alento para os Aliados;
3. as conquistas japonesas no Pacifico, que alargam a guerra ao Extremo Oriente.

3.ª FASE DO CONFLITO: A VITÓRIA DOS ALIADOS (1943 - 1945)

As forças aliadas passaram finalmente à ofensiva em 1943, unindo esforços sob ordens comuns do general americano Eisenhower, as tropas aliadas que se encontravam em operações no Norte de África atravessaram parte do Mediterrâneo, para desembarcar na Sicília de onde iniciaram a libertação da Itália.
Nas suas investidas mais a oriente, as tropas alemãs começavam igualmente a perder terreno frente aos avanços do Exército Vermelho e aos rigores do Inverno russo.
Por outro lado, a Alemanha era agora alvo de múltiplos ataques aéreos por parte das forças aliadas, encontrando-se profundamente destruída.
A vitória estava dependente de um equilíbrio de forças assente na superioridade militar. Foi neste campo que surgiu então a mais mortífera de todas as armas jamais criadas pelo Homem, a bomba atómica. Num mundo bélico em que surgiram pela primeira vez aviões a jacto – criados pela Alemanha já no final do conflito -, seria no entanto a posse desta terrível arma atómica que daria a vitória a um dos lados. Os EUA estavam um pouco mais adiantados nos estudos que possibilitaram o fabrico da bomba.
Também o Japão conhecia agora o amargo sabor da derrota, quando em Guadalcanal, a marinha americana – entretanto já recomposta, após o bombardeamento de Pearl Harbour – lhe infligiu um duro golpe militar.
O final da guerra começaria no dia 6 de Junho de 1944. Neste dia, as tropas aliadas desembarcaram na Normandia, região pela qual teve inicio a libertação da França. Um novo desembarque no Sul foi obrigando as linhas alemãs a recuar em várias frentes.
Entrara já o ano de 1945 quando, na Primavera, a Alemanha é, finalmente, invadida. Esta invasão far-se-ia em diversas frentes:
• a Leste – a Alemanha é invadida pela URSS;
• a Ocidente – a Alemanha é invadida pelas restantes forças aliadas.
Aproxima-se o fim do conflito. Em Abril desse mesmo ano, a cidade de Berlim é ocupada pelos exércitos soviéticos. Vendo-se sem saída, frente a uma situação que lhe escapara definitivamente das mãos, Hitler suicida-se (?).
Finalmente, a 8 de Maio de 1945 a Alemanha rendia-se. No entanto, a guerra ainda não terminara.
Com efeito, os recontros no Pacifico – entre as forças americanas e japonesas – continuavam. Perante uma situação que se arrastava, os EUA decidiram invadir o território japonês, após terem ocupado diversos arquipélagos na região.
Desembarcados na cidade de Okinawa, as forças americanas contaram, desde logo, com um esforço total dos soldados japoneses que, de acordo com um código de honra muito especial, chegavam a sacrificar as próprias vidas para defender o “Império do Sol Nascente”
Mas um dos momentos mais dramáticos da II Guerra Mundial estava por acontecer. Na manha de 6 de agosto de 1945, era lançada a primeira bomba atómica da História da Humanidade, sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Em poucos minutos toda a região ficou totalmente destruída, como se um lança-chamas gigantesco a tivesse “varrido”.
Milhares de mortos e de feridos foi o saldo deste bombardeamento de “uma só bomba”. Seguir-se-ia, apenas três dias depois, a cidade de Nagasaki – a segunda a “testar” a bomba nuclear.
Perante esta trágica situação e na impossibilidade de lutar contra o poder atómico, o Japão render-se-ia pouco depois – em Setembro de 1945.
Terminara a II Guerra Mundial.


AS CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA

A guerra tinha arrastado consigo pesadas perdas humanas, assim como avultados estragos materiais. Quando dos campos de concentração foram libertados pelos Aliados milhares de prisioneiros, o Mundo ficou chocado com o verdadeiro horror que se revelou. Por outro lado uma parte significativa das cidades europeias estava em ruínas: Berlim, Dusseldorf, Londres, importantes cidades do Japão e toda a Rússia europeia.
Para lá da desolação provocada pela destruição das cidades, acrescia a preocupação pelo facto dos sectores industriais e vias de comunicação estarem totalmente destruídos. Finalmente, a juntar-se às perdas humanas e aos prejuízos materiais, assiste-se por toda a Europa a uma desorganização da sociedade, sobretudo nos países de leste, onde todas as elites (intelectuais, administrativas, espirituais e políticas) tinham sido destruídas pela fúria assassina de Hitler.
Ainda decorriam as últimas fases da guerra quando em Fevereiro de 1945, Churchill, Roosevelt e Estaline, líderes das principais potências aliadas, se reuniram em Ialta, nas margens do Mar Negro, com o objectivo de delinear as estratégias do período pós-guerra. Na continuação das negociações para a paz, entre 17 de Julho e 2 de Agosto de 1945, em Potsdam (já com a presença de Harry Truman, novo presidente dos Estados Unidos por morte de Roosevelt, e de Clement Atlee, que substituíra Churchill, entretanto vencido nas eleições), estabelecem-se algumas decisões fundamentais para o novo xadrez político europeu.
As decisões de Ialta e, posteriormente, de Potsdam estabelecem a ”«nova ordem” mundial:
• a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação e controlo sob administração da França, da Inglaterra, dos Estados Unidos e da União Soviética;
• a desmilitarização e desnazificação da Alemanha para permitir o restabelecimento da democracia;
• julgamento dos criminosos de guerra num tribunal criado especialmente para o efeito, em Nuremberga;
• a criação da Organização das Nações Unidas, organismo internacional que teria por objectivo arbitrar e resolver pacificamente os conflitos entre os países membros;
• estabelecimento de ajuda económica aos povos afectados pela guerra.

Nesta nova ordem mundial, vai emergir uma Europa e um Mundo dividido em duas zonas de influência. Os países de leste formam um bloco liderado pela União Soviética, enquanto os demais países europeus constituem um bloco ocidental sob a tutela dos Estados Unidos. Estavam reunidas as condições para o aparecimento de duas superpotências, cada uma delas com a sua área específica de influência.
Terminada a guerra no Japão, desenhou-se um novo futuro para este país. Foram-lhe retirados os territórios conquistados e foram lançadas as bases de um regime democrático parlamentar
A União Soviética passa a anexar os países Bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) e parte da Polónia oriental, enquanto os países aliados restabelecem as suas fronteiras. No leste da Europa, vários regimes comunistas se implantam sob influência soviética.
No Médio Oriente, começa um movimento de formação do Estado de Israel, sediado na Palestina, no território até aí sob administração britânica. Apesar das hostilidades dos muçulmanos, o Estado de Israel viria a ser criado em 1948.
Era necessário reconstruir o Mundo...
Era necessário reconstruir a Esperança...



BIBLIOGRAFIA



  • BLOCH, Marc, Introdução à História, Lisboa, Publicações Europa-América, 1965

  • GILBERT, Martin, A II Guerra Mundial, 1.º e 2.º vols., Lisboa, Publicações D. Quixote, 1989

  • GILBERT, Martin, Auschewitz and the Allies, Londres, 1981

  • HUTIN, Serge, As profecias de Nostradamus, Lisboa, Publicações Europa-América, 1981

  • VÀRIOS, Grandes Mistérios do Século, 1.ª ed., Lisboa, Ed. Selecções do Reader’s Digest, 1995

  • ISKMANN, Elizabeth, Europe of the Dictators 1919-1945, Londres, 1966

  • WISTRICH, Robert, Who’s Who in Nazi Germany, Londres, 1982

OUTRAS PUBLICAÇÕES:



  • Jornal Le Monde Diplomatique

  • Jornal O Público


ANEXOS

ANEXO N.º I

ALGUNS ARTIGOS DO TRATADO DE VERSALHES
(28 DE JUNHO DE 1919 - PAZ COM A ALEMANHA)

 Artigo 42 - É proibido à Alemanha manter ou construir fortificações, tanto na margem esquerda como na margem direita do Reno, a ocidente da linha traçada a 50 quilómetros a leste daquele rio.
 Artigo 43 - São igualmente proibidos, na zona definida no artigo anterior, a conservação e a concentração das forças armadas a titulo permanente ou temporário, assim como todas as manobras militares de qualquer natureza que sejam e a manutenção de quaisquer facilidades materiais de mobilização.
 Artigo 44 - No caso de a Alemanha violar, de qualquer maneira que for, as disposições do artigo 42 e 43, considerar-se-á que comete um acto hostil para com as potências signatárias do presente tratado e que procura perturbar a paz do mundo.
 Artigo 51- Os territórios cedidos à Alemanha em virtude dos preliminares de paz assinados em Versalhes a 26 de Fevereiro de 1871 e do tratado de Francfort de 10 de Maio de 1871 são reintegrados na soberania francesa, a partir do armistício de 11 de Novembro de 1918.
 Artigo 80 - A Alemanha reconhece e respeitará estritamente a independência da Áustria nas fronteiras que serão fixadas por tratado entre este Estado e as principais potências aliadas e associadas: reconhece que esta independência será inalienável, sem consentimento do Conselho da Sociedade das Nações.
 Artigo 81 - A Alemanha reconhece, como já o fizeram as potências aliadas e associadas, a completa independência do Estado Checoslovaco que compreenderá o território autónomo dos Sudetas ao sul dos Cárpatos. [...]
 Artigo 87- A Alemanha reconhece, como já o fizeram as potências aliadas e associadas, a completa independência da Polónia e renuncia a favor da Polónia a todos os direitos e títulos sobre os territórios limitados pelo mar Báltico. [..~)
 Artigo 119-A Alemanha renuncia, a favor das principais potências aliadas e associadas, a todos os seus direitos e títulos sobre as possessões ultramarinas.
 Artigo 159 - As forças militares alemãs serão desmobilizadas e reduzidas nas condições adiante fixadas.
 Artigo 337 – Em qualquer altura, a Sociedade das Nações poderá propor a revisão dos artigos deste Tratado referentes a um regime administrativo permanente.

Do Tratado de Versalhes – Texto Oficial

Discurso de Hitler

“Membros do Reichstag alemão:
Durante meses temos sofrido a tortura que o tratado de Versalhes. para melhor dizer, o ditado de Versalhes. nos deixou. Problema que, com a sua evolução. se tornou insuportável para nós. [...]
Pelo que diz respeito aos nossos objectivos, primeiramente, estou resolvido a solucionar o problema de Dantzig; em segundo lugar, o problema do «Corredor»; em terceiro. conseguir que mudem as relações germano-polonesas de tal forma que tornem possível a convivência pacífica. Por isto, estou resolvido a lutar até que o Governo polaco se mostre disposto a facilitar esse estado de coisas ou até que outro Governo polaco se mostre disposto a isto. [...]
Portanto, vesti novamente o uniforme que em outra ocasião foi para mim o mais sagrado e querido. Só o despirei depois da vitória, ou nunca chegarei ao fim.
Portanto. quero assegurar ao mundo inteiro que Novembro de 1918 não voltará a repetir-se na história alemã. [...]
E quero terminar com a declaração que fiz uma vez, quando comecei a lutar pelo poder. Disse então que quando a nossa vontade fosse tio fone que nenhuma calamidade a amedrontasse. a nossa vontade e o nosso aço poderiam impor-se a qualquer situação de constrangimento. [...]
No caso de me ocorrer algo durante a luta, meu sucessor será o camarada do partido, marechal Goering; seu sucessor será Rudolf Hess. A eles prometereis a mesma lealdade cega e a mesma obediência que me prometeram. No caso de suceder algo a Hess farei que o Senado, por meio de uma lei, eleja seu sucessor entre os mais bravos”.

ANEXO N.º II

Culto do Chefe

“O novo movimento (nacional-socialista ou nazi) é, na sua essência e na sua intima organização, antiparlamentar. ou seja, nega o princípio - em geral como na sua própria organização interna - duma soberania da maioria em virtude da qual o chefe do Governo é rebaixado à categoria de simples executante da vontade dos outros. O movimento defende o principio de que, nas grandes como nas pequenas questões, o chefe detém uma autoridade incontestada. comportando a sua mais inteira responsabilidade. [...] Aquele que quer ser o chefe carrega, com a -.autoridade suprema e sem limites, o pesado fardo duma responsabilidade total. [...] Só um herói pode assumir esta função. [...] Para restituir ao nosso povo a sua grandeza e o seu poder, é preciso, antes de mais, exaltar a personalidade do chefe e restabelecê-la nos seus direitos”.

Racismo

“Nenhuma das nações europeias é racialmente homogénea, nem mesmo a Alemanha. Na base das mais recentes investigações, pudemos determinar cinco raças, com acentuadas diferenças no seu tipo. Ora, é um facto indubitável que a raça nórdica foi a primeira e, para a Europa, a vanguarda como veículo de uma cultura genuína. Foi do sangue desta raça que nasceram os grandes heróis, artistas e fundadores de Estados; foram eles que construíram as grandes praças-fortes e os templos religiosos; foi o sangue nórdico que produziu a poesia e criou as obras de música de que nos honramos como as nossas grandes revelações. Foi este sangue também que mais do que qualquer outro formou e consolidou a vida alemã. [...] Ser alemão é ser nórdico e este elemento aparece nas raças ocidentais, do leste do Báltíco na criação da sua cultura e do seu tipo de civilização”.

Anti-semitismo

“Penetrado da consciência de que a pureza do sangue alemão é a premissa da perpetuidade do povo alemão, e inspirado pela vontade indomável de assegurar o futuro da Nação Alemã, o Reichstag adoptou por unanimidade a lei seguinte, que é proclamada pelos presentes:
Decreto de 15 de setembro de 1935:

1. Os casamentos e súbditos de sangue alemão ou assimilado são proibidos.
2. Os judeus não podem empregar no serviço caseiro mulheres de sangue alemão ou assimilado de idade inferior a 45 anos. [...]
5. As infracções ao 1.º serão sancionadas por uma pena de reclusão. As infracções ao 2.º serão sancionadas por uma pena de prisão ou pena de reclusão”.

ANEXO N.º III

É notória, pela leitura destes dois textos, a semelhança das ideologias que tanto Hitler como Mussolini tentavam incutir aos jovens.

“O teu filho já nos pertence”.
Frase proferida por Adolf Hitler a 06 de Novembro de 1933

“Na presença desta bandeira de sangue, que representa o nosso Fuhrer, juro devotar todas as minhas energias ao salvador do nosso país, Adolf Hitler. Estou desejoso e pronto para dar por ele a minha vida, juro-o por Deus”.
Juramento proferido por rapazes alemães de 10 anos ao entrarem para a Jungvolk (Juventude Alemã)

Num livro infantil , editado em 1930, salienta-se:

“Deves saber que o Duce é como o Pai Eterno: manda produzir 5 milhões de toneladas de trigo e é preciso produzir 5 milhões.
Manda ter muitos filhos e é preciso ter muitos filhos; manda fazer belas casas para os operários e os patrões devem fazer belas casas para os operários, [...]
Se não há trabalho, manda que o haja. [...]
Estás a ver como ele é como o Pai Eterno ? Além disso, fulmina com o olhar aqueles que não lhe obedecem e manda persegui-los porque não gosta de abusos”.

ANEXO N.º IV

A verdade de Auschwitz e a luta pela Liberdade

“A única forma de sair daqui é pela chaminé.” Esta foi a frase que milhões de pessoas ouviram antes de irem para as câmaras de gás.” Arbeit macht Frei” ( o trabalho liberta ) é a outra frase célebre de Auschwitz. Escrita pelos nazis à entrada do campo, por ela passavam todas as manhas e à noite os poucos escolhidos para trabalhar nas fábricas anexas ao principal campo de morte da II Guerra Mundial.
Em Auschwitz, na Polónia, os nazis ensaiaram e puseram em prática a solução final para a questão judaica: o extermínio. 55 anos depois da libertação do campo, subsistem memórias de um horror inultrapassável.
No Verão de 1941, Reinhard Heydrich, ajudante de Himmler, recebeu instruções para conceber os planos para a «solução final» do problema judaico. (Na mente de Hítler, o judeu era o arqui-inimigo da civilização e a fonte de todo o mal que existia no Mundo.) Heydrich propôs duas soluções. Uma consistia em enviar esquadrões móveis de extermínio atrás da Wehrmacht quando esta marchasse para a Polónia Oriental e a URSS (a Alemanha tinha invadido a União Soviética em junho de 1941) para matar todos os judeus e chefes comunistas locais onde eles se encontrassem. O outro plano envolvia a construção na Polónia de enormes campos de extermínio, equipados com eficientes câmaras de gás e modernos fornos crematórios. Nos quatro anos seguintes, perto de 6 milhões de judeus foram transportados pata Auschwitz, Treblinka, Belsen e outros locais, onde foram metodicamente assassinados.
Aqueles que tentaram minar a Nova Ordem através de sabotagem, subversão ou resistência armada foram brutalmente castigados. Em alguns casos, aldeias inteiras foram destruídas como represália para desencorajar outros potenciais resistentes. Depois de a Resistência ter feito ir pelo ares o automóvel de Hydrich, nos arredores de Praga, nos fins de Maio de 1942 (mortalmente ferido, Hydrich viria a morrer a 4 de Junho), os nazis cercaram a aldeia próxima de Lidice, aprisionaram os seus habitantes e fuzilaram todos os cidadãos do sexo masculino com mais de 16 anos. As mulheres e as crianças foram separadas e levadas para campos de concentração. Depois, a aldeia foi incendiada. Outro alvo das represálias nazis foi a pequena cidade de Oradour-sur-Glane, perto de Limoges, França. Em 10 de Junho de 1944, unidades das SS invadiram a cidade, fecharam os homens em celeiros e as mulheres e crianças numa igreja, metralharam os edifícios e depois lançaram-lhes logo.
Os judeus de Varsóvia organizaram, na Primavera de 1943, uma desesperada insurreição que durou um mês, depois de390 000 dos iniciais 450 000 terem morrido ou sido transportados para campos de extermínio. Quando as SS tentaram, em meados de Abril, remover do gueto de Varsóvia os judeus que restavam, estes resistiram, e o irado comandante das SS mandou os seus homens cercarem o gueto com tanques, metralhadoras, lança-chamas e dinamite. A resistência terminou em meados de Maio, depois de as SS terem leito ir pelos ares a sinagoga de Varsóvia, onde as poucas centenas de sobreviventes tinham procurado refúgio.
Embora semelhantes actos de brutalidade desencorajassem muitos a oporem-se aos nazis, não destruíram completamente o espírito de resistência. Por toda a Europa ocupada pequenos grupos de homens e mulheres organizaram jornais clandestinos, estabeleceram redes de espionagem e planearam e puseram cm prática operações de sabotagem. Reuniram informações valiosas acerca das actividades alemãs e auxiliaram os agentes aliados, os pilotos de aviões abatidos e os prisioneiros de guerra que tinham fugido. Talvez tão importante como o trabalho que realizaram foi o facto de tais grupos proporcionarem, pelo menos a algumas pessoas da Europa ocupada, um vislumbre de esperança de que poderiam um dia ser capazes de sacudir o jugo insuportável do Reich sonhado por Hitler para durar 1000 anos.


ANEXO N.º V

Hiroshima:
«Uma bomba nova e extremamente cruel».
Com estas seis palavras o imperador Hirohito descreve a arma que arrasou Hiroshima e Nagasaki, pondo termo à guerra e criando a possibilidade
de uma destruição à escala mundial.

Ao romper do dia 6 de Agosto de 1945, a cidade industrial de Hiroshima, situada em Honshu, a principal ilha do Japão, estava em plena actividade. A cidade fora até então poupada aos bombardeamentos com bombas incendiárias dos B-29 americanos que haviam devastado Tóquio e outros centros urbanos, mas os seus habitantes esperavam o pior, pois Hiroshima era um importante posto militar e de armazenagem de abastecimentos. Na previsão de um ataque, evacuou-se parte da população, que passou de 400 000 para cerca de 245 000 habitantes.
Pouco depois das 7 h., um alarme aéreo soou quando um só avião de reconhecimento americano sobrevoou a cidade. Sendo a aparição de tais aviões uma ocorrência vulgar, a maior parte da população não sentiu a necessidade de procurar abrigo. Às 7.32 soou o sinal de «perigo passado». Imediatamente após as 8 h., os operadores japoneses de radar detectaram mais três aviões que se aproximavam de Hiroshima a grande altitude. Na presunção de tratar-se de aviões de reconhecimento, não houve um segundo alerta.
Alguns segundos após as 8.15, dois dos aviões descreveram curvas apertadas em voo descendente e sentidos opostos. Ao virarem, um dos aviões lançou três pára-quedas que transportavam equipamento para registo de explosão, e o outro uma bomba atómica preparada para detonar 562 m acima da cidade.
A bomba explodiu com um brilhante clarão, seguido por uma bola de fogo em expansão tão intensa que incinerou milhares de pessoas perto do centro de Hiroshima e queimou outras que se encontravam a 4 km de distância. Depois veio a onda de choque com o impacte de um vento a 800 km/h., arrasando quase tudo num raio de mais de 3 km. Fragmentos soltos de madeira, tijolo, telha e vidro transformaram-se em projécteis mortais; as colunas de pedra de um hospital imediatamente abaixo do local da explosão foram empurradas pelo solo adentro. Tubagens de água foram feitas em pedaços e os incêndios, causados por milhares de fogões de carvão derrubados que haviam sido acesos para a preparação da refeição matinal, acabaram a obra que o calor e a explosão haviam começado. Todas as casas numa área de 13 km2 em torno do local de explosão da bomba foram destruídas. A cidade de Hiroshima ficou arrasada.
Começou a cair uma chuva de grossas gotas, negras e oleosas, resultantes da condensação da nuvem em forma de cogumelo que se ergueu sobre a cidade, atingindo uma altitude de 15 000 m. Finalmente, aqueles que haviam fugido para os rios ou para os parques a fim de escaparem às chamas foram arrastados por um forte vento provocado pela baixa pressão no centro do fogo, que arrancou árvores e formou ondas altas nos rios, afogando assim muitos dos que haviam procurado refúgio na água.
Pelo menos 78 000 pessoas, e possivelmente muitos milhares mais, foram mortas em consequência da explosão em Hiroshima. Um número equivalente sofreu ferimentos e ficou com as casas danificadas ou destruídas. A guarnição militar da cidade foi aniquilada. Apenas alguns médicos ficaram vivos, tendo sido destruída a maior parte dos hospitais e dos abastecimentos médicos. Os habitantes de cidades vizinhas descreveram as vítimas queimadas, ainda vivas ou mortas, como já não parecendo seres humanos, em carne viva e enegrecidos, sem cabelo e com os traços fisionómicos mal definidos.
No dia seguinte ao bombardeamento, o general Seizo Arisue foi enviado a Hiroshima pelo Supremo Comando Japonês. Arisue descreveu as consequências da bomba:
«Quando o avião sobrevoou Hiroshima, havia apenas uma árvore negra e morta, como um corvo pousado na cidade. Nada mais havia além dessa árvore. Quando descemos no aeroporto toda a relva estava vermelha, como se tivesse sido torrada. Já não havia nenhum incêndio. Tudo ardera simultaneamente ... a própria cidade tinha desaparecido completamente.»
Arisue não tinha conhecimento da bomba atómica, mas um físico nuclear japonês que se deslocou à cidade em 8 de Agosto reconheceu a origem da destruição. O Supremo Conselho de Guerra Japonês reuniu-se no dia 9 para discutir a rendição, demasiado tarde porém para evitar outro desastre. As 11.02 desse dia, uma segunda bomba atómica foi lançada, desta vez sobre a cidade de Nagasaki.
Mais tarde, quando a natureza da bomba foi compreendida, os Japoneses iriam designá-la pelo nome, estranhamente poético de genshi bakudan (bomba criança original). As novas palavras hibakusha (pessoa afectada pela bomba) e higaisha (vítima, ou pessoa ferida) ainda hoje são utilizadas de preferência a seizonsha (sobrevivente), pois a ênfase que esta última dá ao conceito de vida é considerada injusta para com aqueles que foram mortos.

ANEXO N.º VI

Este poema de Sankichi Toge é um verdadeiro hino à Esperança do povo japonês e um apelo para que a ciência seja usada para fins que beneficiem a Humanidade. Que os horrores de Hiroshima e Nagasaki nunca mais se repitam.

MANHÃ

Eles sonham:
Um trabalhador sonha, baixando a picareta,
O suor transformado em cicatrizes pelo clarão.
Uma esposa sonha, dobrada sobre a máquina de
Costura, entre o odor doentio
Da sua pele aberta.
Uma empregada de bilheteira sonha,
As suas cicatrizes escondidas, como pinças de caranguejo, nos dois braços.
Um vendedor de fósforos sonha,
Com pedaços de vidro partido cravados no pescoço.

Eles sonham:
Que através de um elemento obtido
A partir da pechblenda e da carnotite,
Mediante uma interminável cadeia de energia,
Desertos estéreis sejam transformados
Em campos férteis;
Canais brilhantes corram em redor da base
De montanhas que se desagregam,
Sob sóis artificiais nos desertos do Árctico.
Que sejam construídas cidades e vilas de ouro puro.

Eles sonham:
Que bandeiras festivas tremulem
À sombra das árvores, onde os trabalhadores repousam
E as lendas de Hiroshima são contadas por lábios suaves.

Eles sonham:
Que esses suínos com forma de homem
Que não sabem como utilizar o poder
Do centro da terra senão para a carnificina,
Apenas sobrevivem em livros ilustrados
Para crianças.
Que a energia de dez milhões de cavalos-vapor
Por grama, mil vezes mais forte
Que um poderoso explosivo,
Passe do átomo para as mãos do povo.
Que a colheita rica da ciência
Seja levada, em paz, ao povo
Como cachos de uvas suculentas
Húmidas de orvalho
Apanhadas
Ao amanhecer.
Sankichi Toge





Sem comentários:

Research / Pesquisa